terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Mariana Nascimento: títulos e desenvolvimento na palma das mãos

Treinadora é uma das grandes responsáveis pelo crescimento do handebol em Paraíso

Não são poucas as vezes que o Jornal do Sudoeste estampa em suas páginas as conquistas do handebol de São Sebastião do Paraíso. Copa Derla, Lidarp (Liga do Alto do Rio Pardo), Jemg (Jogos Estudantis de Minas Gerais) Joju (Jogos da Juvrntude) e Jojuninho (Jogos Infantis) foram alguns dos torneios que renderam medalhas ao município neste ano. O que pouca gente sabe é que uma das maiores responsáveis por esses e outros feitos é uma jovem professora apaixonada pelo esporte.

Mariana Aparecida Nascimento, 26 anos, é tímida, não gosta de aparecer. Entretanto, sua importância no desenvolvimento do handebol na cidade não permite que ela permaneça no anonimato. Entre uma instrução e outra durante o treinamento de uma de suas equipes, a professora fala ao “JS” sobre o amor pelo esporte em que é permitido fazer gol com as mãos.

O COMEÇO

Nascida na Vila Santa Maria, Mariana cresceu acompanhando o pai, jogador de futebol amador, nas partidas de final de semana. Foi paixão à primeira vista. Aos 11 anos, a convite da professora Leni Soares, ela teve o primeiro contato com o handebol. “Passei a jogar handebol nas esco-linhas”, conta.

Como naquela época não existiam tantas categorias, a jovem atleta tinha que se contentar em treinar com garotas seis, sete anos mais velhas do que ela. Ou seja, Mariana teve que esperar muito tempo para entrar em quadra em um jogo oficial. “Comecei a entrar em quadra com 14 anos. Passei a participar de várias competições, mas, como éramos muitas atletas, basicamente, eu era a reserva da reserva”, brinca.

O longo período no banco de reservas fez com que Mariana se identificasse com a função de treinadora. “Comecei a trabalhar com esporte quando estava no antigo terceiro ano do colegial. Comecei como monitora, a convite, mais uma vez, da Leni. Eu era atleta e, na época, existia uma espécie de bolsa atleta. A gente praticava o esporte e auxiliava nas escolinhas. A Leni já tinha iniciado um projeto e eu comecei a ajudar nas escolinhas de handebol”, se recorda.

A jovem tomou gosto pela “coisa” e, logo que saiu do ensino médio, decidiu cursar a faculdade de Educação Física. “Até brinco que escolhi ser professora de Educação Física de tanto ficar no banco. Eu mais auxiliava as atletas do que praticava, apesar de que, nas vezes que entrei, sempre tive um bom desempenho”, esclarece.

Mariana estava decidida a cursar Educação Física em Uberlândia. Ela havia sido aprovada no vestibular e se mudaria para a casa de familiares, Leni Soares, porém, mais uma vez teve papel fundamental na vida da treinadora. “Ela me propôs continuar em Paraíso. Como eu já havia pegado gosto, fiquei. Estudei em Franca e joguei pelo time da Unifran. Para isso, eles me davam bolsa de estudos”.  Além disso, Mariana passou a trabalhar no projeto “Vida Ativa”, onde atua até hoje.

ELA E O HANDEBOL

Assim que se formou, em 2008, a treinadora trabalhou como auxiliar em projetos de atletismo e natação, mas o coração estava mesmo no handebol. Entre dezenas e dezenas de medalhas, Mariana destaca uma: a de campeã dos Jogos Escolares de 2011. “Eu peguei essa equipe quando as meninas tinham oito, nove anos. Nós perdemos muitas vezes. Chegamos a perder de 40 a oito para Campestre. Perdemos demais no sub-11, no sub 13. Mas, quando chegamos ao sub-14, que era o objetivo que nós tantos trabalhamos, passamos a temporada toda invictas e derrotamos a mesma Campestre na final”, se recorda com orgulho.

Ao lado de Leni, Mariana trabalha com 14 equipes em Paraíso, divididas em diversas categorias. A jovem se emociona ao falar sobre os alunos. “É gratificante demais pegar um menino pela mão e ensiná-lo a fazer um arremesso, uma defesa. É muito bom ver a evolução deles”, comenta a professora que, neste ano, disputou incríveis 148 partidas. “Acaba se tornando uma segunda família. Eu tive um jogo a cada três dias, então acabo convivendo mais com o handebol do que com a minha própria família”, diz.

DIFICULDADES

O handebol é o esporte mais praticado nas escolas públicas do Brasil, contudo, esta é a modalidade coletiva olímpica que menos recebe incentivos do governo federal e de patrocinadores. Se no profissional a situação não é das melhores, o amadorismo só sobrevive graças a pessoas como Mariana. “O esporte amador é movido à paixão e coragem.

Em 15 anos de handebol, já vi treinadores excelentes deixarem a carreira por falta de apoio. O handebol é uma modalidade que não está na mídia, que só agora que está começando a ganhar repercussão”, conta.

VOOS MAIS ALTOS

Na manhã de sexta-feira, 29, a treinadora e uma de suas alunas, Evelyn, viajaram para Uberlândia, de onde seguem para compor a seleção mineira de handebol, que disputa do Campeonato Brasileiro de seleções a partir deste final de semana. A professora será auxiliar-técnica da equipe.

Além de representar o estado em uma competição nacional, a treinadora possui no currículo um valoroso estágio. “Acompanhei as seleções masculinas sub-19 e adulta, que fizeram preparação em Paraíso em 2011. Foi um aprendizado enorme para mim, já que não temos muito essa questão profissional em Minas Gerais”, ressalta.

À MESTRA COM CARINHO

Poucos fizeram tanto pelo esporte de São Sebastião do Paraíso como a professora Leni Soares. A dedicação e o amor pelo que faz inspiram a pupila Mariana. “Ela foi a minha maior incentivadora, desde o início. Como atleta e também como profissional. Todo professor tem o seu mestre e ela representa isso para mim”. 

REALIZAÇÃO

Ao ser questionada sobre seus sonhos dentro do esporte, Mariana começa a contar a história de um ex-aluno, mas a entrevista é interrompida por alguns instantes devido às lágrimas que insistem a rolar em seu rosto. Depois de se recompor, ela reinicia. “Na semana passada, um ex-atleta nosso me ligou. Disse que estava em Ribeirão Preto e que iria começar a cursar a faculdade de Educação Física, com bolsa de estudos de 100% para continuar trabalhando. Saiu do Muschioni, era drogado e hoje está aí. Ele foi embora. Eu achei que ele estava com a vida perdida, mas não está”. Esse é o maior troféu que a gente pode ganhar. Fiquei muito feliz por ele. Ele não se tornou atleta, mas se tornou pessoa”.


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